quinta-feira, 30 de julho de 2009
sábado, 25 de julho de 2009
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder
"No fundo da prática científica existe um discurso que diz: nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que no entanto está somente à espera de nosso olhar para aparecer, à espera de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está presente aqui e em todo lugar. Mas achamos também, e de forma tão profundamente arraigada na nossa civilização, esta idéia que repugna à ciência e à filosofia: que a verdade, como o relâmpago, não nos espera onde temos a paciência de emboscá-la e a habilidade de surpreendê-la, mas que tem instantes propícios, lugares privilegiados, não só para sair da sombra como para realmente se produzir. Se existe uma geografia da verdade, esta é a dos espaços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá-la (...)"
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 9 ed. Tradução Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979,
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 9 ed. Tradução Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979,
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Io, filha de Ínaco / Prometeu Acorrentado (Ésquilo)
Como poderia deixar de cumprir vosso desejo? Ouvi, pois, a história que tanto desejais conhecer, embora muito me custe recordar a causa do flagelo com que o céu oprime, e da horrível transformação que tenho sofrido. Quando, no recesso de meu retiro virginal, ainda os sonhos me deleitavam, uma voz insidiosa me dizia: "Ò ninfa ditosa, por que insistes em conservar sua virgidade, se podes realizar o mais glorioso himeneu? Por ti arde Júpeter na chama do desejo; contigo ele quer fluir os prazeres do amor. Filha de Ínaco, não desprezes o amor de Júpiter; corre às plagas de Lerna, àquelas campinas irrigadas por teu pai, e cede ao olhar amoroso de um deus que te adora". Pobre de mim! Tais eram os sonhos que me perseguiam todas as noites. Resolvi, finalmente, cientificar meu pai do que se passava. Ele enviou mensageiros a Pitos e a Dodona, a fim de indagar o que era mister para agradar aos deuses. Por algum tempo não obteve senão respostas ambíguas, cujo sentido se ocultava sob a mais impenetrável obscuridade. Deram-lhe, por último, uma decisão oracular determinando que eu fosse expulsa de minha casa e de minha pátria, e condenada a vagar sem rumo aos confins do mundo. Se meu pai não obedecesse, Júpiter desfecharia raios fulminantes, que destruiriam totalmente a nossa raça. Cumprindo esse oráculo de Apolo, meu pai obrigou-me a partir para longe, em doloroso exílio. Ele assim agiu, eu bem sei, contra a sua, e a minha vontade; mas o poder de Júpiter o forçou a praticar tamanha violência. Desde logo minha razão e meus traços fisionômicos se alteraram: apontam estes chifres em minha fronte; um moscardo me fere com seu ferrão agudo... Aos saltos, numa corrida louca, atirei-me à corrente benéfica do Cencreia, e procurei a fonte mais alta do Lerna. Um cão pastor, filho da terra, o impiedoso Argos, seguia-me por toda parte, observando-me com seus inúmeros olhos. Inesperado golpe privou-o, de repente, da vida; mas o terrível inseto, flagelo divino, continuou a perseguir-me, expulsando-me de um país para o outro. Eis o que tem sido minha sorte até o presente momento; visto que sabes o que ainda me resta a sofrer, dize-me: eu te peço! Não me iludas com uma mentira... Trair a verdade é o mais vergonhoso dos vícios.
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